EMER-N

O EMER-N já foi adubo para 60 ideias e negócios do Norte

EMER-NO programa EMER-N conta ajudar a erguer (e a solidificar) mais de 600 negócios em regiões rurais e urbanas do Norte de Portugal. O apoio resulta de uma articulação entre entidades regionais, especialistas académicos e serviços de administração pública.

Elisabete Alves prepara-se para deixar Matosinhos. Diz encontrar-se numa “fase de transição”.

Para trás ficará o mar, mas o destino é a calmaria montanhosa de Arcos de Valdevez e na vista há árvores amontoadas, quase a formar uma onda verde e estática – “é como se estivesse em casa”, diz, porque “há uma grande ligação à terra”.

O motivo é o projecto, que, com o marido, idealizou em 2016 – o Parque Ecológico da Peneda, que a agora empresária conta ver a funcionar antes do Verão do próximo ano.

Para já, afina-se a máquina: há protótipos para fechar, uma casa abandonada que aguarda decisão para recuperar, e, depois, a divulgação. Este é um dos muitos projectos apoiados pelo programa EMER-N (Empreendedorismo em Meio Rural Norte), que conta ajudar até 688 empreendedores ou empresas espalhados pelos 86 municípios da região norte. O número foi praticamente alcançado, uma vez que a plataforma do programa já conta “com mais de 600 inscrições”.

Os números são revelados por Francisco Araújo, um dos coordenadores do projecto, financiado pelo programa NORTE 2020, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). O objectivo é providenciar apoio a micro e pequenos negócios da região, que, “apesar da potencialidade”, não alavancam por falta de ajudas institucionais, ficando por colmatar as “eventuais debilidades” da empresa ou do empreendedor.

Cada ideia tem o auxílio de mentores e investigadores, para além de um apoio em consultoria especializada. Depois, já com o projecto em fase de lançamento, o programa promete a integração “numa rede de negócios única”.

O EMER-N actua gratuitamente, através de uma articulação entre instituições de ensino superior (como o Instituto Politécnico de Bragança ou a Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro), Associações de Desenvolvimento Local (ADL) e incubadoras de empresas.

Esta cooperação entre entidades empresariais, científicas e tecnológicas é resultado de um investimento de dois milhões de euros. Tudo isto é um “trabalho conjunto de uma parceria de 15 entidades”, conta Jorge Miranda, da in.Cubo, uma das principais entidades do projecto.

Foi nesta incubadora, sediada nas margens do rio que corre por Arcos de Valdevez, que se construiu a “metodologia utilizada para testar em negócios instalados em áreas de baixa densidade”. O primeiro passo deu-se com o Sabores do Vez, empresa produtora de enchidos e fumados em Tabaçô, freguesia do mesmo município que alberga a incubadora. Agora, essa “fórmula” alarga-se às mais de 500 ideias – algumas, “perto de 60”, já transformadas em negócios, – que estão a ser acompanhadas pelo projecto maior, o EMER-N.

Ao PÚBLICO, Jorge Miranda explica que o apoio prestado se divide em três quadrantes: “a incubação de empresas em fase de maturação, o apoio ao empreendedorismo (não necessariamente em fase inicial) e a solidificação de empresas e negócios”. O Parque Ecológico da Peneda é um exemplo ainda em fase embrionária, mas também há projectos apoiados pelo programa que são bem conhecidos na região, catalogados como negócios “em fase avançada”.

Exemplo disso é a Cerveja Letra, sediada em Vila Verde, Braga, num espaço que também alberga a fábrica de produção cervejeira. O cunho tradicional já a distingue nos bares mais a norte, para além dos espaços próprios (um perto da fábrica e outro no Porto).

Francisco Pereira, um dos sócios, fala de uma “forte ligação à região minhota” por parte da empresa que não se moveu para terrenos eventualmente mais férteis, fazendo da cerveja tradicional um exemplo de sucesso fora dos centros económicos onde, normalmente, crescem os negócios mais conhecidos.

No entanto, havia dificuldades relativas à “área da consultoria e do marketing”, conta, o que fez com que a Cerveja Letra se candidatasse ao programa. Francisco Pereira vê no EMER-N um “carimbo dinamizador” de ideias e negócios da zona norte, e aponta que o trabalho desenvolvido junto dos candidatos “ajuda a validar ideias”; consequentemente, “criam-se postos de trabalho”. Esse é o caso de outro projecto, também de Braga, e igualmente em “fase avançada”.

A Libella, criada por Dorinda Martins e Susana Fernandes em Amares, tem arranque marcado para Janeiro próximo. A venda de produtos “semi-elaborados, pasteurizados, embalados em vácuo e congelados ou refrigerados” é a aposta deste duo de amigas, mas a abordagem a esse mercado faz-se a partir de produtos típicos da região, como a tripa ou os hambúrgueres de alheira.

O projecto ganhou forma em 2016, quando se aliou o gosto pela cozinha de Dorinda Martins e a “inclinação para o empreendedorismo” de Susana Fernandes.

Contudo, “o longo processo de licenciamento” atrasou o lançamento da marca, explicam. A licença foi conseguida em Maio deste ano; depois, em Julho, as duas sócias decidiram candidatar-se ao EMER-N.

A intervenção dos mentores e especialistas providenciados pelo programa “será fundamental no que diz respeito ao marketing”, contam, uma vez que os produtos da Libella “têm potencial para alcançar, mais tarde, o mercado externo”, acreditam.

Não existe critério algum que cinja o apoio do programa a zonas “mais rurais” ou “mais urbanas”, diz Jorge Miranda. O EMER-N expande-se de Trás-Os-Montes ao Porto, e no meio cabem realidades bem contrastantes – das ideias a fervilhar na costa vianense aos projectos da zona do Vale do Sousa, havendo espaço para as ideias transmontanas ou minhotas.

A Libella, a Letra ou o Parque Ecológico da Peneda são apenas três das centenas de ideias e projectos apoiados pelo programa. O grande objectivo é a “criação efectiva de, em média, quatro empresas por município”, adianta o coordenador do projecto Francisco Araújo, que também aponta o número oito como indicador médio de empresas apoiadas em cada concelho. As inscrições estarão abertas até Fevereiro de 2018, data em que se contam ter reunidas todas as ferramentas necessárias para alavancar os negócios rurais e urbanos do Norte.

Até lá, Elisabete Alves vai preparando os quase nove hectares que acolherão o parque ecológico, “um espaço integrado no território”, onde quer fazer crescer árvores, hortícolas e produzir alimentos sazonais. Tal como a empresária de Matosinhos, há muitos outros empreendedores à espera de colher os frutos das ideias e do trabalho desenvolvidos, e o EMER-N pretende ajudá-los a maturar.

Noticia Original Publicada no Jornal Público